Saúde mental como prioridade: reforma da psiquiatria no Hospital Conde Modesto Leal revoluciona atendimento em Maricá

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Maricá (RJ) — O cuidado com a saúde mental, por muitos anos relegado a segundo plano na saúde pública brasileira, finalmente ganha protagonismo no município de Maricá. A cidade vive uma transformação concreta com a reestruturação da ala de psiquiatria do Hospital Municipal Conde Modesto Leal, sob gestão da Organização Social de Saúde (OSS) Hospital Mahatma Gandhi. 

Mais que uma reforma física, o que está em curso é a consolidação de um novo modelo de cuidado, onde o acolhimento, a dignidade e a reabilitação são tão importantes quanto o tratamento clínico. O hospital se prepara para se tornar um dos centros de referência em saúde mental da Região Metropolitana do Rio de Janeiro. 

 

Reestruturação completa: nova ala psiquiátrica, novo olhar 

A reforma do setor de psiquiatria é parte de um projeto maior de requalificação do Hospital Conde Modesto Leal, que também inclui a ampliação da emergência e a criação de um moderno CTI (Centro de Terapia Intensiva). No entanto, a transformação da psiquiatria tem um significado especial: colocar o cuidado em saúde mental no centro da política de saúde local. 

A nova estrutura da ala psiquiátrica contará com: 

  • Salas de atendimento humanizado; 
  • Leitos individualizados para crises agudas; 
  • Espaços terapêuticos voltados para reabilitação psicossocial; 
  • Ambientes seguros e acolhedores, com menor estímulo sensorial. 

Segundo a diretora administrativa da OSS Mahatma Gandhi, Larissa Cordeiro: 

“Estamos transformando o hospital em um lugar onde as pessoas com sofrimento psíquico não sejam tratadas apenas como pacientes, mas como sujeitos em busca de recuperação e pertencimento social.” 

Atendimento qualificado: equipe multiprofissional em ação 

O novo modelo psiquiátrico está sendo acompanhado pela reestruturação dos protocolos assistenciais e pela atuação de uma equipe multiprofissional altamente capacitada, formada por: 

  • Médicos psiquiatras e clínicos gerais; 
  • Psicólogos e terapeutas ocupacionais; 
  • Enfermeiros especializados em saúde mental; 
  • Assistentes sociais; 
  • Educadores físicos e nutricionistas. 

Essa abordagem permite intervenções mais integradas e humanizadas, tanto em casos de urgência quanto no acompanhamento longitudinal de pacientes com transtornos mentais graves, dependência química e transtornos do humor. 

“Trabalhamos não só pela estabilização, mas também pela reinserção. O objetivo é que a pessoa volte a se ver como cidadã, com autonomia e autoestima”, afirma Carla Monteiro, psicóloga clínica do hospital. 

Resultados concretos: menos internações, mais acolhimento 

Mesmo antes da finalização das obras, os efeitos da nova filosofia de cuidado já são perceptíveis nos dados e na rotina da unidade. 

Desde o início das mudanças em 2024: 

  • Houve uma redução de 18% nas internações involuntárias; 
  • O número de reintegrações sociais com apoio do CAPS e SAD aumentou em 23%; 
  • Mais de 300 atendimentos mensais no Hospital-Dia vêm sendo realizados com enfoque terapêutico e multidisciplinar; 
  • Atividades como oficinas de arte, tai chi chuan e terapia ocupacional foram intensificadas, melhorando a adesão ao tratamento. 

O coordenador clínico do setor, Dr. Henrique Dias, destaca: 

“Não é só sobre conter crises, mas sobre prevenir recaídas. Ao cuidar da mente e do entorno social do paciente, estamos evitando novas descompensações.” 

Integração com a rede: SAD, CAPS e Hospital-Dia fortalecidos 

A atuação do hospital se articula com outras frentes da rede pública, também geridas pela OSS, como o Serviço de Atenção Domiciliar (SAD), o Hospital-Dia Psiquiátrico e os CAPS (Centro de Atenção Psicossocial). 

Essa integração permite que o paciente: 

  • Receba alta com plano de cuidados contínuos; 
  • Tenha suporte domiciliar e psicológico após internações; 
  • Participe de atividades terapêuticas extracurriculares; 
  • Conte com o apoio da família e da comunidade. 

Essa lógica rompe com o modelo manicomial tradicional, e caminha em consonância com a Reforma Psiquiátrica Brasileira, que defende um tratamento comunitário, humanizado e não excludente. 

Indicador  Antes (2023)  Depois (2024/2025) 
Internações involuntárias  Alta (50+/mês)  18% de redução 
Participação em oficinas terapêuticas  35% dos pacientes  68% 
Reintegração pós-internação  42%  65% 
Adesão ao tratamento medicamentoso  70%  86% 
Satisfação dos familiares (pesquisa)  78%  93% 

Depoimentos que emocionam 

“Eu achei que meu filho não teria mais volta. Foram anos de internações. Mas agora ele está em casa, faz as oficinas de música e recebe acompanhamento semanal. A gente sente que há esperança de novo”, contou Tereza Luz, mãe de um paciente bipolar atendido no hospital. 

“Trabalhar aqui me faz acreditar que a psiquiatria pode ser um lugar de acolhimento, não de dor. Aqui o paciente é tratado como alguém com potencial, não como um problema.”Fernanda Ribeiro, enfermeira do setor. 

Próximos passos: inovação e referência nacional 

A OSS Mahatma Gandhi, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de Maricá, já tem planos para consolidar a cidade como referência estadual em saúde mental: 

  • Implantação de telepsiquiatria para regiões remotas; 
  • Criação de Núcleo de Pesquisa e Formação em Saúde Mental; 
  • Ampliação do Hospital-Dia e convênios com universidades para estágio; 
  • Fortalecimento do plano terapêutico individualizado com participação ativa da família. 

“Maricá tem o potencial de ser modelo para o Brasil. A saúde mental precisa ser tratada como política pública séria — com investimento, acolhimento e compromisso”, reforça Larissa Cordeiro, da OSS Mahatma Gandhi. 

Uma nova era para a saúde mental em Maricá 

A reforma da psiquiatria no Hospital Conde Modesto Leal não é apenas uma obra de engenharia civil: é uma construção de cidadania, de cuidado e de pertencimento. Em tempos de aumento da demanda por atenção à saúde mental, Maricá mostra que é possível inovar com humanidade e eficiência. 

Com profissionais preparados, estrutura moderna e uma rede integrada de cuidado, a cidade avança na direção certa: a de um modelo de saúde mental mais justo, acolhedor e eficaz. 

 

 

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